Deixai Entrar A Morte

Florbela Espanca

Deixai entrar a Morte, a Iluminada, A que vem para mim, pra me levar. Abri todas as portas par em par Com asas a bater em revoada. Que sou eu neste mundo? A deserdada, A que prendeu nas mâos todo o luar, A vida inteira, o sonho, a terra, o mar E que, ao abri-las, não encontrou nada! Ó Mâe! Ó minha Mâe, pra que nasceste? Entre agonias e em dores tamanhas Pra que foi, dize lá, que me trouxeste Dentro de ti? Pra que eu tivesse sido Somente o fruto amargo das entranhas Dum lirio que em má hora foi nascido!...