Panteísmo

Florbela Espanca

Ao Botto de Carvalho Tarde de brasa a arder, sol de verao Cingindo, voluptuoso, o horizonte... Sinto-me luz e cor, ritmo e clarao Dum verso triunfal de Anacreonte! Vejo-me asa no ar, erva no chao, Oifo-me gota de água a rir, na fonte, E a curva altiva e dura do Marao É o meu corpo transformado em monte! E de bruços na terra penso e cismo Que, neste meu ardente panteísmo Nos meus sentidos postos e absortos Nas coisas luminosas deste mundo, A minha alma é o túmulo profundo Onde dormem, sorrindo, os deuses mortos!