Ao Botto de Carvalho
Tarde de brasa a arder, sol de verao
Cingindo, voluptuoso, o horizonte...
Sinto-me luz e cor, ritmo e clarao
Dum verso triunfal de Anacreonte!
Vejo-me asa no ar, erva no chao,
Oifo-me gota de água a rir, na fonte,
E a curva altiva e dura do Marao
É o meu corpo transformado em monte!
E de bruços na terra penso e cismo
Que, neste meu ardente panteísmo
Nos meus sentidos postos e absortos
Nas coisas luminosas deste mundo,
A minha alma é o túmulo profundo
Onde dormem, sorrindo, os deuses mortos!