Matéria de poesia

Manoel de Barros

Todas as coisas cujos valores podem ser disputados no cuspe à distância servem para poesia O homem que possui um pente e uma árvore serve para poesia Terreno de 10 x 20, sujo de mato — os que nele gorjeiam: detritos semoventes, latas servem para poesia Um chevrolé gosmento Coleção de besouros abstêmios O bule de Braque sem boca são bons para poesia As coisas que não levam a nada têm grande importância Cada coisa ordinária é um elemento de estima Cada coisa sem préstimo tem seu lugar na poesia ou na geral