Um songo

Manoel de Barros

Aquele homem falava com as árvores e com as águas ao jeito que namorasse. Todos os dias ele arrumava as tardes para os lírios dormirem. Usava um velho regador para molhar todas as manhãs os rios e as árvores da beira. Dizia que era abençoado pelas rãs e pelos pássaros. A gente acreditava por alto. Assistira certa vez um caracol vegetar-se na pedra. mas não levou susto. Porque estudara antes sobre os fósseis lingüísticos e nesses estudos encontrou muitas vezes caracóis vegetados em pedras. Era muito encontrável isso naquele tempo. Ate pedra criava rabo! A natureza era inocente.