Carta de Natal a Murilo Mendes

Sophia de Mello Breyner Andresen

Querido Murilo: será mesmo possível Que você este ano não chegue no verão Que seu telefonema não soe na manhã de Julho Que não venha partilhar o vinho e o pão Como eu só o via nessa quadra do ano Não vejo a sua ausência dia-a-dia Mas em tempo mais fundo que o quotidiano Descubro a sua ausência devagar Sem mesmo a ter ainda compreendido Seria bom Murilo conversar Neste dia confuso e dividido Hoje escrevo porém para a Saudade - Nome que diz permanência do perdido Para ligar o eterno ao tempo ido E em Murilo pensar com claridade - E o poema vai em vez desse postal Em que eu nesta quadra respondia - Escrito mesmo na margem do jornal Na Baixa - entre as compras do Natal Para ligar o eterno e este dia Querido Murilo: será mesmo possível Que você este ano não chegue no verão Que seu telefonema não soe na manhã de Julho Que não venha partilhar o vinho e o pão Como eu só o via nessa quadra do ano Não vejo a sua ausência dia-a-dia Mas em tempo mais fundo que o quotidiano Descubro a sua ausência devagar Sem mesmo a ter ainda compreendido Seria bom Murilo conversar Neste dia confuso e dividido Hoje escrevo porém para a Saudade - Nome que diz permanência do perdido Para ligar o eterno ao tempo ido E em Murilo pensar com claridade - E o poema vai em vez desse postal Em que eu nesta quadra respondia - Escrito mesmo na margem do jornal Na Baixa - entre as compras do Natal Para ligar o eterno e este dia