Em Creta Onde o Minotauro reina Banhei-me no mar Há uma rápida dança que se dança em frente de um toiro Na antiquíssima juventude do dia Nenhuma droga me embriagou me escondeu me protegeu Só bebi retsina tendo derramado na terra a parte que pertence aos deuses De Creta Enfeitei-me de flores e mastiguei o amargo vivo das ervas Para inteiramente acordada comungar a terra De Creta Beijei o chão como Ulisses Caminhei na luz nua Devastada era eu própria como a cidade em ruína Que ninguém reconstruiu Mas no sol dos meus pátios vazios A fúria reina intacta E penetra comigo no interior do mar Porque pertenço à raça daqueles que [mergulham de olhos abertos E reconhecem o abismo pedra a pedra anémona a anémona flor a flor E o mar de Creta por dentro é todo azul Oferenda incrível de primordial alegria Onde o sombrio Minotauro navega Pinturas ondas colunas e planícies Em Creta Inteiramente acordada atravessei o dia E caminhei no interior dos palácios veementes e vermelhos palácios sucessivos e roucos Onde se ergue o respirar da sussurrada treva E nos fitam pupilas semi-azuis de penumbra e terror Imanentes ao dia - Caminhei no palácio dual de combate e confronto Onde o Príncipe dos Lírios ergue os seus gestos matinais Nenhuma droga me embriagou me escondeu me protegeu O Dionysos que dança comigo na vaga não se vende em nenhum mercado negro Mas cresce como flor daqueles cujo ser Sem cessar se busca e se perde e se desune e se reúne E esta é a dança do ser Em Creta Os muros de tijolo da cidade minóica São feitos com barro amassado com algas E quando me virei para trás da minha sombra Vi que era azul o sol que tocava o meu ombro Em Creta onde o Minotauro reina atravessei a vaga De olhos abertos inteiramente acordada Sem drogas e sem filtro Só vinho bebido em frente da solenidade das coisas - Porque pertenço à raça daqueles que percorrem o labirinto, Sem jamais perderem o fio de linho da palavra