O hospital e a praia

Sophia de Mello Breyner Andresen

E eu caminhei no Hospital Onde o branco é desolado e sujo Onde o branco é a cor que fica quando não há cor E onde a luz é cinza E eu caminhei nas praias e nos campos O azul do mar e o roxo da distância Enrolei-os em redor do meu pescoço Caminhei na praia quase livre como um deus Não perguntei por ti à pedra meu Senhor Nem me lembrei de ti bebendo o vento O vento era vento e a pedra pedra E isso inteiramente me bastava E nos espaços da manhã marinha Quase livre como um deus eu caminhava Porém no hospital eu vi o rosto Que não é pinheiral nem é rochedo E vi a luz como cinza na parede E vi a dor absurda e desmedida.