Ao nosso lado os mortos em surdina Bebem a exalação da nossa vida. São a sombra seguindo os nossos gestos, Sinto-os passar quando leves vêm Alta noite buscar os nossos restos. Passam nos quartos onde nos deixamos, Envolvem-se nos gestos que traçamos, Repetem as palavras que dissemos, E debruçados sobre o nosso sono Bebem como um leite o nosso sonho. Intangíveis, sem peso e sem contorno Aquecem-se ao calor do nosso sangue. Sorriem às imagens que vivemos E choram por nós quando não as vemos, Porque já sabem para onde vamos.