Passam os carros e fazem tremer a casa A casa em que estou só. As coisas há muito já foram vividas: Há no ar espaços extintos A forma gravada em vazio Das vozes e dos gestos que outrora aqui estavam. E as minhas mãos não podem prender nada. Porém eu olho para a noite E preciso de cada folha. Rola, gira no ar a tua vida, Longe de mim... Mesmo para sofrer este tormento de não ser Preciso de estar só. Antes a solidão de eternas partidas De planos e perguntas, De combates com o inextinguível Peso de mortes e lamentações Antes a solidão porque é completa. Creio na nudez da minha vida Tudo quanto nele acontece é dispensável. Só tenho o sentimento suspenso de tudo Com a eternidade a boiar sobre as montanhas. Jardim, jardim perdido Os nossos membros cercando a tua ausência... As folhas dizem uma à outra o teu segredo, E o meu amor é oculto como o medo.