Lapa de Bandeira

Vinicius de Moraes

(Quinta rima)  A Manuel Bandeira  Existia, e ainda existe  Um certo beco na Lapa  Onde assistia, não assiste  Um poeta no fundo triste  No alto de um apartamento  Como no alto de uma escarpa.  Em dias de minha vida  Em que me levava o vento  Como uma nave ferida  No cimo da escarpa erguida  Eu via uma luz discreta  Acender serenamente.  Era a ilha da amizade  Era o espírito do poeta  A buscar pela cidade  Minha louca mocidade.  Como uma nave ferida  Perambulando patética.  E eu ia e ascensionava  A grande espiral erguida  Onde o poeta me aguardava  E onde tudo me guardava  Contra a angústia do vazio  Que embaixo me consumia.  Um simples apartamento  Num pobre beco sombrio  Na Lapa, junto ao convento...  Porém, no meu pensamento  Era o farol da poesia  Brilhando serenamente.