O corta-jaca

Vinicius de Moraes

Rattus rattus rattus  (Pelas sarjetas de Ipanema e do Leblon)  Rattus rattus rattus  (Estupefatos gatos fogem de pavor)  Rattus rattus rattus  A tua louca simetria  Rói a raiz dos próprios fatos  Rattus rattus  E acaba roendo a poesia.  Rattus rattus rattus  (Foi o mesmo Deus que fez o lírio quem te fez?)  Rattus rattus rattus  (Tu multiplicas dois por quatro igual a dez)  Rattus rattus rattus  Impessoal procriador  Não chegues junto aos meus sapatos  Rattus rattus  Porque eu te mato, ó roedor.  É o rato é o rato  É o rato criança  Cujo artesanato  Lhe vem da lembrança  Do rato rapaz  Que guarda o retrato  Risonho e roaz  Do rato do rato  Do rato já velho  Que fuma charuto  Se olhando no espelho  E de quem os atos  Que a cifra amplifica  Um bando de ratos  Sempre ratifica.  Um rato de preto  E um rato de branco  Um rato de frente  E um rato de flanco;  Um rato de púrpura  E um rato de cáqui  Um rato de feltro  E um rato de fraque;  Um rato de imprensa  Que tem que viver  É um rato que pensa  Um rato abstrato  Que rói por roer;  Um rato esquisito  Que vive em Paris  É um rato erudito  Um rato de giz;  E além desses ratos  Os ratos da terra  Que servem a outros ratos  Que não são da terra  Tem dona Ratona  E os rato-ratinhos  Tão engraçadinhos  Brincando de guerra  Rattus rattus rattus etc...