Quando vier de novo o céu de maio largando estrelas
Eu irei, lá onde os pinheiros recendem nas manhãs úmidas
Lá onde a aragem não desdenha a pequenina flor das encostas
Será como sempre, na estrada vermelha a grande pedra recolherá sol
E os pequenos insetos irão e virão, e longe um cão ladrará
E nos tufos dos arbustos haverá enredados de orvalho nas teias de aranha.
As montanhas, vejo-as iluminadas, ardendo no grande sol amarelo
As vertentes algodoadas de neblina, lembro-as suspendendo árvores nas nuvens
As matas, sinto-as ainda vibrando na comunhão das sensações
Como uma epiderme verde, porejada.
Na eminência a casa estará rindo no lampejar dos vidros das suas mil janelas
A sineta tocará matinas e a presença de Deus não permitirá a Ave-Maria
Apenas a poesia estará nas ramadas que entram pela porta
E a água estará fria e todos correrão pela grama
E o pão estará fresco e os olhos estarão satisfeitos.
Eu irei, será como sempre, nunca o silêncio sem remédio das insônias
O vento cantará nas frinchas e os grilos trilarão folhas secas
E haverá coaxos distantes a cada instante
Depois as grandes chuvas encharcando o barro e esmagando a erva
E batendo nas latas vagas monotonias de cidade.
Eu me recolherei um minuto e escreverei: — “Onde estará a volúpia?...”
E as borboletas se fecundando não me responderão.
Será como sempre, será a altura, será a proximidade da suprema inexistência
Lá onde à noite o frio imobiliza a luz cadente das estrelas
Lá onde eu irei.
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