Soneto a Lasar Segall

Vinicius de Moraes

De inescrutavelmente no que pintas Como num amplo espaço de agonias Imarcescível música de tintas A arder na lucidez das coisas frias: Tão patéticas sois, tão sonolentas Cores que o meu olhar mortificais Entre verdes crestados e cinzentas Ferrugens no prelúdio dos metais. Que segredo recobre a velha pátina Por onde a luz se filtra quase tímida Do espaço silencioso que esculpiste Para pintar sem gritos de escalarte Na profunda revolta contra o crime Daqueles que fizeram a vida triste?... Rio, 1942