Soneto do só

Vinicius de Moraes

(Parábola de Malte Laurids Brigge) Depois foi só. O amor era mais nada Sentiu-se pobre e triste como Jó Um cão veio lamber-lhe a mão na estrada Espantado, parou. Depois foi só. Depois veio a poesia ensimesmada Em espelhos. Sofreu de fazer dó Viu a face do Cristo ensanguentada Da sua, imagem — e orou. Depois foi só. Depois veio o verão e veio o medo Desceu de seu castelo até o rochedo Sobre a noite e do mar lhe veio a voz A anunciar os anjos sanguinários... Depois cerrou os olhos solitários E só então foi totalmente a sós. Rio, 1946