Dedicatória

Castro Alves

A pomba daliança o vôo espraia Na superfície azul do mar imenso, Rente... rente da espuma já desmaia Medindo a curva do horizonte extenso... Mas um disco se avista ao longe... A praia Rasga nitente o nevoeiro denso!... Ó pouso! ó monte! ó ramo de oliveira! Ninho amigo da pomba forasteira! ... Assim, meu pobre livro as asas larga Neste oceano sem fim, sombrio, eterno... O mar atira-lhe a saliva amarga, O céu lhe atira o temporal de inverno. . . O triste verga à tão pesada carga! Quem abre ao triste um coração paterno?... É tão bom ter por árvore — uns carinhos! É tão bom de uns afetos — f azer ninhos! Pobre órfão! Vagando nos espaços Embalde às solidões mandas um grito! Que importa? De uma cruz ao longe os braços Vejo abrirem-se ao mísero precito... Os túmulos dos teus dão-te regaços! Ama-te a sombra do salgueiro aflito... Vai, pois, meu livro! e como louro agreste Traz-me no bico um ramo de... cipreste!