A Queima

Castro Alves

MEU NOBRE perdigueiro! vem comigo. Vamos a sós, meu corajoso amigo, Pelos ermos vagar! Vamos Já dos gerais, que o vento açoita, Dos verdes capinais nagreste moita A perdiz levantar!... Mas não!... Pousa a cabeça em meus joelhos... Aqui, meu cão! ... Já de listrões vermelhos O céu se iluminou. Eis súbito da barra do ocidente, Doudo, rubro, veloz, incandescente, O incêndio que acordou! A floresta rugindo as comas curva... As asas foscas o gavião recurva, Espantado a gritar. O estampido estupendo das queimadas Se enrola de quebradas em quebradas, Galopando no ar. E a chama lavra qual jibóia informe, Que, no espaço vibrando a cauda enorme, Ferra os dentes no chão... Nas rubras roscas estortega as matas.... Que espadanam o sangue das cascatas Do roto coração!... O incêndio — leão ruivo, ensangüentado, A juba, a crina atira desgrenhado Aos pampeiros dos céus!... Travou-se o pugilato e o cedro tomba... Queimado..., retorcendo na hecatomba Os braços para Deus. A queimada! A queimada é uma fornalha! A irara — pula; c cascavel — chocalha... Raiva, espuma o tapir! ... E às vezes sobre o cume de um rochedo A corça e o tigre — náufragos do medo — Vão trêmulos se unir ! Então passa-se ali um drama augusto... Núitimo ramo do pau-darco adusto O jaguar se abrigou... Mas rubro é o céu... Recresce o fogo em mares... E após tombam as selvas seculares... E tudo se acabou!...