Prometeu

Castro Alves

Ó mon auguste mère, et vous enveloppe de la commune lumière, divin éther, voyez quels injustes tourments on me fait souffrir. Qui compatit à cette grande souffrance, qui sapproche du rocher désert où se tord Prométhée? Quelques pauvres filles, pieds nus. ÉSQUILO Inda arrogante e forte, o olhar no sol cravado, Sublime no sofrer, vencido — não domado, Na última agonia arqueja Prometeu. O Cáucaso é seu cepo; é seu sudário o céu, Como um braço de algoz, que em sangueira se nutre, Revolve-lhe as entranhas o pescoço do abutre. Pra as iras lhe sustar... corta o raio a amplidão E em correntes de luz prende, amarra o Titão. Agonia sublime! ... E ninguém nesta hora Consola aquela dor, naquela angústia chora. Ai! por cúmlo de horror!... O Oriente golfa a luz, No Olímpo brinca o amor por entre os seios nus. De tirso em punho o bando das lúbricas bacantes, Correm montanha e val em danças delirantes. E ao gigante caído... a terra e o céu (rivais!...) Prantos lascivos dão... suor de bacanais. Mas não! Quando arquejante em hórrido granito Se estorce Prometeu, gigantesco precito, Vós, Nereidas gentis, meigas filhas do mar! O oceano lhe trazeis... pra em prantos derramar... Povo! povo infeliz! Povo, mártir eterno, Tu és do cativeiro o Prometeu moderno... Enlaça-te no poste a cadeia das Leis, O pescoço do abutre é o cetro dos maus reis. Para tais dimensões, pra músculos tão grandes, Era pequeno o Cáucaso... amarram-te nos Andes. E enquanto, tu, Titão, sangrento arcas aí, O século da luz olha... caminha... ri... Mas não! mártir divino, Encélado tombado! Junto ao Calvário teu, por todos desprezado, A musa do poeta irá — filha do mar — O oceano de sua alma ... em cantos derramar ...