Loucura Divina

Castro Alves

—"SABES que voz é esta?" Ela cismava!... — "Sabes, Maria? — "É uma canção de amores. Que além gemeu!" — "É o abismo, criança!..." A moça rindo Enlaçou-lhe o pescoço: — "Oh! não! não mintas! Bem sei que é o céu!" —"Doida! Doida! É a voragem que nos chama!..." —"Eu ouço a Liberdade!" — "É a morte, infante! — "Erraste. É a salvação!" —Negro fantasma é quem me embala o esquife!" —"Loucura! É tua Mãe ... O esquife é um berço, Que bóia namplidão!..." — "Não vês os panos dágua como alvejam Nos penedos? Que gélido sudário O rio nos talhou!" — "Veste-me o cetim branco do noivado... Roupas alvas de prata... albentes dobras... Veste-me!... Eu aqui estou." —JÁ na proa espadana, salta a espuma... " —São as flores gentis da laranjeira Que o pego vem nos dar... Oh! névoa! Eu amo teu sendal de gaze!... Abram-se as ondas como virgens louras, Para a Esposa passar!... "As estrelas palpitam! — São as tochas! Os rochedos murmuram!... São os monges! Reza um órgão nos céus! Que incenso! — Os rolos que do abismo voam! Que turíbulo enorme — Paulo Afonso! Que sacerdote! — Deus..."