Soneto de separação

Vinicius de Moraes

De repente do riso fez-se o pranto  Silencioso e branco como a bruma  E das bocas unidas fez-se a espuma  E das mãos espalmadas fez-se o espanto.  De repente da calma fez-se o vento  Que dos olhos desfez a última chama  E da paixão fez-se o pressentimento  E do momento imóvel fez-se o drama.  De repente, não mais que de repente  Fez-se de triste o que se fez amante  E de sozinho o que se fez contente.  Fez-se do amigo próximo o distante  Fez-se da vida uma aventura errante  De repente, não mais que de repente. Oceano Atlântico, a bordo do Highland Patriot, a caminho da Inglaterra, setembro de 1938