Soneto de um casamento

Vinicius de Moraes

Na sala de luz lívida, sorriam  Sombras imóveis; e outras lacrimosas  Perseguiam lembranças dolorosas  Na exaltação das flores que morriam.  Em vácuos de perfume, descaíam  Diáfanos, de diáfanas mãos piedosas  Fátuos sons de brilhantes que fremiam  Entre a crepitação lenta das rosas.  Nas taças cheias acendiam círios  Votivos, e entre as taças e entre os lírios  Vozes veladas, nessa mesa posta  Velavam... enquanto plácida e perdida  Irreal e longínqua como a vida  Toda de branco perpassava a Morta.