Blasfêmia

Florbela Espanca

Cala-te... Escuta... Nao me digas nada... Cai a noite nos longes donde vim... Toda eu sou alma e amor! Sou um jardim! Um pátio alucinante de Granada! Dos meus cilios, a sombra enluarada, Quando os teus olhos descem sobre mim, Traça trémulas hastes de jasmim Na palidez da face extasiada! Sou no teu rosto a luz que o alumia... Sou a expressâo das tuas mâos de raça... E os beijos que me dás já foram meus... Em ti sou glória, altura e poesia! E vejo-me (Oh, milagre cheio de graça!) Dentro de ti, em ti, igual a Deus!...