Salmos da Noite

Alphonsus de Guimaraens

Ó minha amante, eu quero a volúpia vermelha Nos teus braços febris receber sobre a boca; Minh'alma, que ao calor dos teus lábios se engelha E morre, há de cantar perdidamente louca. O peito, que a uma furna escura se assemelha, De mágicos florões o teu olhar me touca; Ao teu lábio que morde e tem mel como a abelha, Dei toda a vida... e eterna ela seria pouca. Ao teu olhar, oceano ora em calma ora em fúria, Canta a minha paixão um salmo fundo e terno, Como o ganido ao luar de uma cadela espúria... — Salmo de tédio e dor, hausteante, negro e eterno, E no entanto eu te sigo, ó verme da luxúria, E no entanto eu te adoro, ó céu do meu inferno!