Versos a um cão

Augusto dos Anjos

Que força pôde, adstrita a embriões informes, Tua garganta estúpida arrancar Do segredo da célula ovular Para latir nas solidões enormes?! Esta obnóxia inconsciência, em que tu dormes, Suficientíssima é, para provar A incógnita alma, avoenga e elementar Dos teus antepassados vermiformes Cão! - alma de inferior rapsodo errante! Resigna-a, ampara-a, arrima-a, afaga-a, acode-a A escala dos latidos ancestrais... E irá assim, pelos séculos, adiante, Latindo a esquisitíssima prosódia Da angústia hereditária dos seus pais!