Não Sabes

Castro Alves

QUANTA ALTA noite namplidão flutua Pálida a lua com fatal palor, Não sabes, virgem, que eu por ti suspiro E que deliro a suspirar de amor. Quando no leito entre sutis cortinas Tu te reclinas indolente aí, Ai! Tu não sabes que sozinho e triste Um ser existe que só pensa em ti. Lírio destalma, sensitiva bela, És minha estrela, meu viver, meu Deus. Se olhas — me rio, se sorris — me inspiro, Choras — deliro por martírios teus. E tu não sabes deste meu segredo Ah! tenho medo do teu rir cruel!... Pois se o desprezo fosse a minha sorte Bebera a morte neste amargo fel. Mas dá-me a esprança num olhar quebrado, Num ai magoado, num sorrir dó céu, Ver-me-ás dizer-te na febril vertigem "Não sabes, virgem? Meu futuro é teu"!