Queres Flores? Queres Cantos?

Castro Alves

QUERES FLORES? Queres cantos? Como hei de dar-tos se prantos Só tenho no peito meu? Queres luzes e harmonias?... Debalde... só agonias Meu alaúde gemeu... Donzela! Fora loucura Pedir ao tufão doçura, Ao morto alegre canção, Buscar a flor dos quiosques Entre os ciprestes, os bosques Que ensombram funéreo chão. Porém escuta um conselho... Pede a Veneza um espelho... Mira o teu rosto... e verás Um desses quadros tão belos Que — homens não sabem fazê-los, Que — dous assim Deus não faz. Na tua boca formosa Verás uma linda rosa Meio fechada a sorrir, E, como gotas nitentes, As pérolas de teus dentes No seio da flor luzir. O perfume do Oriente — Quando rezas inocente — Se embala nos lábios teus. E no teu seio, se treme, Tens a Poesia, se geme, Tens a harmonia dos Céus. Queres ver o Paraíso? Descerra os lábios... Um riso Vem-nos o Éden mostrar... Canta!... E aos hinos sagrados Verás no Céu debruçados Os astros pra te escutar. Tens a noite nas madeixas Onde a brisa em temas queixas Geme... morre de languor. São mais que os astros — brilhantes Os teus olhos fascinantes, — Lindas estrofes de amor... E ainda pedes-me um canto?!... Quebra a lira o Bardo santo Ao ver um sorriso teu... Rasga a tela Rafael... Fídias estala o cinzel... Deus treme de amor no Céu.