Navios-fantasmas

Florbela Espanca

O arabesco fantástico do fumo Do meu cigarro traça o que disseste, A azul, no ar, e o que me escreveste, E tudo o que sonhastes e eu presumo. Para a minha alma estática e sem rumo, A lembrança de tudo o que me deste Passa como o navio que perdestes, No arabesco fantástico do fumo... Lá vão! Lá vão! Sem velas e sem mastros, Têm o brilho rutilante de astros, Navios-fantasmas, perdem-se a distância! Vão-me buscar, sem mastros e sem velas, Noiva-menina, a doidas caravelas, Ao ignoto País da minha infância...