Nuvem Branca

Raimundo Correia

Dizei-me: é ela a noiva casta e pura, Que no alvor dessa nuvem rutilante, Passa agora? Dizei-me, nesse instante, Turbilhões de translúcida brancura; Colar, broches de pérolas e opalas; Gaza que, em níveos flocos, por formosas, Rijas pomas de mármore, ondulosas Curvas e espáduas de marfim, resvalas... Dizei-me, branca, virginal capela; Nítida espuma de nevadas rendas; Alvos botões de laranjeira; prendas Simbólicas do amor; dizei-me: é ela? É ela a noiva? É mesto, ou prazenteiro, Seu doce olhar? Sorri alegre, ou chora, Seu semblante gentil oculto agora Do espesso véu no alvíssimo nevoeiro? É ela, sim! Su’alma, entre os fulgores Das claras tochas cândidas e ardentes, Nas querúbicas asas transparentes, Voa, festiva, a um tálamo de flores... Mistérios nupciais, só vos devassa Um louco amante! Ao seu olhar ansioso Velais debalde o arcanjo, o astro radioso Que, dentro dessa nuvem branca, passa...