O Misantropo

Raimundo Correia

A boca, às vezes, o louvor escapa E o pranto aos olhos; mas louvor e pranto Mentem: tapa o louvor a inveja, enquanto O pranto a vesga hipocrisia tapa. Do louvor, com que espanto, sob a capa Vejo tanta dobrez, ludíbrio tanto! E o pranto em olhos vejo, com que espanto, Que escarnecem dos mais, rindo à socapa! Porque, desde que esse ódio atroz me veio, Só traições vejo em cada olhar venusto? Perfídias só em cada humano seio? Acaso as almas poderei sem custo Ver, perspícuo e melhor, só quando odeio? E é preciso odiar para ser justo?!