I Poesia de Inverno: poesia do tempo sem deuses Escolha Cuidadosa entre restos Poesia das palavras envergonhadas Poesia dos problemas de consciência das palavras Poesia das palavras arrependidas Quem ousaria dizer: Seda nácar rosa Árvore abstracta e desfolhada No inverno da nossa descrença II Pinças assépticas Colocam a palavra-coisa Na ilha do papel Na prateleira das bibliotecas III Quem ousaria dizer: Seda nácar rosa Porque ninguém teceu com suas mãos a seda - em longos dias em compridos e com finos sedosos dedos E ninguém colheu na margem da manhã a rosa - leve e pesada faca de doçura Pois o rio já não é sagrado e por issonem sequer é rio E o universo não brota das mãos dum deus do gesto e do sopro dum deus da alegria e da veemência dum deus E o homem pensando à margem do destino procura arranjar licença de residência na caserna provisória dos sobreviventes IV Meu coração busca as palavras do estio Busca o estio prometido das palavras