Alexandrinos a Florença

Vinicius de Moraes

Rio de Janeiro Nessa tarde toscana, hermética e remota,  Verde sinistro sobre antiga terracota,  De onde, conzento-azuis, ímã-ferrugem, surgem  Cúpulas, torres, claustros, campos: renascença  Das coisas que passaram mas que urgem; nessa  Tarde em Florença, ah que serenidade imensa  Nessa tarde em que tudo parecia ir dar  No Arno e deslizar no mesmo lugar, no  Ponte Vecchio; ou na piazza della Signoria  Quando, sob a luz mais exata, a estatuária  Parecia lembrar... Nessa tarde em colinas  Florentinas, quanta meditação nos campos  De oliva e feno, imarcescíveis; quanta voz  Silenciante... e aquele cipreste imenso  No poente, imóvel... vulto secular de Dante  Penando a morte imemorial da bem-amada...