Os inconsoláveis

Vinicius de Moraes

Desesperados vamos pelos caminhos desertos Sem lágrimas nos olhos Desesperados buscamos constelações no céu enorme E em tudo, a escuridão. Quem nos levará à claridade Quem nos arrancará da visão a treva imóvel E falará da aurora prometida? Procuramos em vão na multidão que segue Um olhar que encoraje nosso olhar Mas todos procuramos olhos esperançosos E ninguém os encontra. Aos que vêm a nós cheios de angústia Mostramos a chaga interior sangrando angústias E eles lá se vão sofrendo mais. Aos que vamos em busca de alegria Mostramos a tristeza de nós mesmos E eles sofrem, que eles são os infelizes Que eles são os sem-consolo... Quando virá o fim da noite Para as almas que sofrem no silêncio? Por que roubar assim a claridade Aos pássaros da luz? Por que fechar assim o espaço eterno Às águias gigantescas? Por que encadear assim à terra Espíritos que são do imensamente alto? Ei-la que vai, a procissão das almas Sem gritos, sem prantos, cheia do silêncio do sofrimento Andando pela infinita planície que leva ao desconhecido As bocas dolorosas não cantam Porque os olhos parados não veem. Tudo neles é a paralisação da dor no paroxismo Tudo neles é a negação do anjo...                 ...são os Inconsoláveis. — Águias acorrentadas pelos pés. ---