Provavelmente não virei montado
Em cavalo nenhum, como soía
Nem de armadura, que essa, trago vestida
Feita do aço da vida
Sobre a cota de malha do silêncio.
É possível até que chegue bêbado
E se em janeiro, de camisa esporte.
O importante é chegar, ser a unidade
Ser a cidade e eu, eu e a cidade
Ouvir de novo o mar se estilhaçando
Nas rochas ou bramindo no oceano
Sozinho como um Deus. Ou no verão
No verão, quando o sol, embora oculto
Queima a cera da Lua
Ver - ó visão! Vênus morrer nas ondas
A pura, a louca, a grande suicida
Cuja morte restitui os homens à vida
Na ilusão do tempo. Oh bem-amada
Cidade! como mulher petrificada
Em nádegas e seios e joelhos
De rocha milenar, e verdejante
Púbis e doces axilas e cabeleira
Vegetal
Mulher adormecida junto ao mar
Eu te amo em teu sol e teu luar
Junto de ti me sinto, tua luz
Não fere o meu silêncio. O meu silêncio
Te pertence. Eu sei que, resguardada
De seres que se movem entre teus braços
Teus olhos têm visões de outros espaços
Passados e futuros.
*
Esta é a cidade em que te vi passando
Esta é a cidade que me viu sofrendo
Esta é a cidade que trilhei fugindo
Metrópole fatal, hosana! hosana!
Esta é Copacabana, ampla laguna
Curva e horizonte, arco de amor vibrando
Suas setas de luz contra o infinito.
Aqui meus olhos desnudaram estrelas
Aqui meus braços discursaram à Lua
Desabrochavam tigres dos meus passos
E as sereias por mim se consumiam.
Copacabana! praia de memórias
Quantos êxtases, quantas madrugadas
Em teu colo marítimo! esta é a areia
Que tanto enlamacei com minhas lágrimas
Aquele é o bar que freqüentei. Vês tu
Aquele escuro ali? É um monumento
Cone de sombra erguido pela noite
Para marcar por toda a eternidade
O local onde, um dia, fui perjuro
Ao teu amor. Ali beijei-te ansiado
Como se a vida fosse terminar
Naquele louco embate. Ali cantei
Ali menti, ali me silenciei
Para gozo da aurora pervertida.
Sobre o banco de pedra que ali está
Nasceu uma poesia. Ali jurei
Um dia me matar. Ali fui mártir
Fui covarde, fui bárbaro, fui santo.