Sinto-me só como um seixo de praia

Vinicius de Moraes

Sinto-me só como um seixo de praia  Vivendo à busca no cristal das ondas,  Não sei se sou o que não sou. Pressinto  Que a maré vai morar no fundo d'alma.  Calo-me sempre se te escuto vindo  Marulho de incerteza e de agonia;  Há crenças deslizando nos meus traços,  Molhando a estátua do meu sonho antigo.  Declino-me nas frases dos rochedos  Nas pérolas de som do inesquecer  Na incrível sombra da montanha adulta.  E ao me curvar ao peso da memória,  Descubro meu reflexo obscuro  Num soneto de espumas inexatas.