Soneto a Octávio de Faria

Vinicius de Moraes

Não te vira cantar sem voz, chorar  Sem lágrimas, e lágrimas e estrelas  Desencantar, e mudo recolhê-las  Para lançá-las fulgurando ao mar?  Não te vira no bojo secular  Das praias, desmaiar de êxtase nelas  Ao cansaço viril de percorrê-las  Entre os negros abismos do luar?  Não te vira ferir o indiferente  Para lavar os olhos da impostura  De uma vida que cala e que consente?  Vira-te tudo, amigo! coisa pura  Arrancada da carne intransigente  Pelo trágico amor da criatura. Oxford, 1939