Soneto com pássaro e avião

Vinicius de Moraes

De "O grande desastre do six-motor francês  Leonel de Marmier, tal como foi visto e vivido pelo poeta  Vinicius de Moraes, passageiro a bordo"  Uma coisa é um pássaro que voa  Outra um avião. Assim, quem o prefere  Não sabe às vezes como o espaço fere  Aquele. Um vi morrer, voando à toa  Um dia em Christ Church Meadows, numa antiga  Tarde, reminiscente de Wordsworth...  E tudo o que ficou daquela morte  Foi um baque de plumas, e a cantiga  Interrompida a meio: espasmo? espanto?  Não sei. Tomei-o leve em minha mão  Tão pequeno, tão cálido, tão lasso  Em minha mão... Não tinha o peito de amianto.  Não voaria mais, como o avião  Nos longos túneis de cristal do espaço...