Soneto da desesperança

Vinicius de Moraes

De não poder viver sua esperança  Transformou-a em estátua e deu-lhe um nicho  Secreto, onde ao sabor do seu capricho  Fugisse a vê-la como uma criança.  Tão cauteloso fez-se em seus cuidados  De não mostrá-la ao mundo, que a queria  Que por zelo demais, ficaram um dia  Irremediavelmente separados.  Mas eram tais os seus ciúmes dela  Tão grande a dor de não poder vivê-la,  Que em desespero, resolveu-se: - Mato-a!  E foi assim que triste como um bicho  Uma noite subiu até o nicho  E abriu o coração diante da estátua.