Soneto de criação

Vinicius de Moraes

Rio de Janeiro Deus te fez numa fôrma pequenina  De uma argila bem doce e bem morena  Deu-te uns olhos minúsculos de china  Que parecem ter sempre um olhar de pena.  Banhou-te o corpo numa fonte fina  Entre os rubores de uma aurora amena  E por criar-te assim, leve e pequena  Soprou-te uma alma cálida e divina.  Tão formosa te fez, tão soberana  Que dar-te aos anjos por irmã queria  Mas ao plasmar-te a carne predileta  Deus, comovido, te criara humana  E para tua justa moradia  Atirou-te nos braços do poeta.