O namorado das ruas

Vinicius de Moraes

Eu sou doido por Alice  Mas confesso que a meiguice  De Conceição me alucina.  Lucília não me dá folga  Porém que amor é Bambina!  Por Olga já fiz miséria  Perdi dinheiro e saúde  Mas quando Maria Quitéria  Apareceu, eu não pude...  Mais tarde, dona Florinda  Quase me pega: que uva!  Depois foi a viúva Dantas:  Nunca vi coisa mais linda  Do que o morro da Viúva.  Em seguida foram tantas  Que já nem estou mais lembrado  Foi Tereza Guimarães  Foi Carolina Machado.  Hilda tinha tanto fogo  Que eu, fraco, sem poder mais  Mudei para Botafogo  Meus casos sentimentais.  Minha dona Mariana  Que saudades da senhora...  Como foi bom seu convívio  Depois que deixei Aurora!  Foi por essa ocasião  Que eu, numa questão de dias  Namorei tantas Marias  Quantas encontrei à mão.  Primeiro, Maria Amália  E logo Maria Angélica  Que larguei por Marieta  Por achá-la um tanto bélica.  Maria do Carmo deu-me  Momentos a não esquecer  E a bela Maria Paula...  Morei nela de morrer.  Estela... de minha vida  Nunca vi coisa mais nua  Nem mais ardente; foi ela  Quem mostrou-me o olho da rua.  Em Ana Teles perdi  Os meus versos mais profundos  Depois passei-me para Alcina:  Como adorava os baldios  Que existiam nos seus fundos!  E Irene... como era triste!  No entanto, tão bem calçada...  Nela gastei muito alpiste  Para a sua passarada.  Mas se me disserem: poeta  Qual o nome mais amado  Das ruas que conheceu?  Eu tanto tempo passado  Ó minha Joana Angélica  Iria dizer o teu.