Soneto de Montevidéu

Vinicius de Moraes

Não te rias de mim, que as minhas lágrimas  São água para as flores que plantaste  No meu ser infeliz, e isso lhe baste  Para querer-te sempre mais e mais.  Não te esqueças de mim, que desvendaste  A calma ao meu olhar ermo de paz  Nem te ausentes de mim quando se gaste  Em ti esse carinho em que te esvais.  Não me ocultes jamais teu rosto; dize-me  Sempre esse manso adeus de quem aguarda  Um novo manso adeus que nunca tarda  Ao amante dulcíssimo que fiz-me  À tua pura imagem, ó anjo da guarda  Que não dás tempo a que a distância cisme.