A Janela e o Sol

Alberto de Oliveira

“Deixa-me entrar, - dizia o sol - suspende A cortina, soabre-te! Preciso O íris trêmulo ver que o sonho acende Em seu sereno virginal sorriso. Dá-me uma fresta só do paraíso Vedado, se o ser nele inteiro ofende... E eu, como o eunuco, estúpido, indeciso, Ver-lhe-ei o rosto que na sombra esplende.” E, fechando-se mais, zelosa e firme, Respondia a janela: “Tem-te, ousado! Não te deixo passar! Eu, néscia, abrir-me! E esta que dorme, sol, que não diria Ao ver-te o olhar por trás do cortinado, E ao ver-se a um tempo desnudada e fria?!”