OITAVAS A NAPOLEÃO

Castro Alves

(Tradução do espanhol, de LOZANO) Águia das solidões!... Ninho atrevido Foram-te as borrascosas tempestades, Flamígero cometa suspendido Sobre o céu infinito das idades. Tu que, no lago intérmino do olvido, Lançaste tuas régias claridades... Deus caído do trono dos mais deuses Quem recebeu teus últimos adeuses? Não foram as Pirâmides, que ouviram De teus passos o som e se inclinaram... Nem as águas do Nilo, que te viram, E coas ondas teu nome murmuraram... Não foram as cidades, que brandiram As torres como facho... te aclararam... Quem foi? Silêncio!.. trêmulo de medo Vejo apenas — um mar... vejo — um rochedo... A terra, o mar, os céus... espaço estreito Eram pra tua planta de gigante, Para tecto dos paços teus foi feito O firmamento colossal, flutuante Como diadema — os sóis... E como leito O antártico pólo de diamante... Teu féretro qual foi?... Titão do Sena, O penhasco fatal de Santa Helena... Assassina do Encélado da guerra Só tu foste, Albion... do mar senhora... Por quê? Porque um pedaço aí de terra Foi pedir-te o gigante em negra hora... E lhe deste um penhasco... Oh! Lá sencerra Tua lenda mais hórrida... Traidora! Lá seu espectro envolto, na mortalha Aos quatro céus a maldição espalha... Ao leão, que temias, enjaulaste; E de longe escutando seu rugido, Tu, senhora do mar... tu desmaiaste! Pelo punhal traidor ele ferido Caiu-te aos pés... Então tu respiraste, Cobarde vencedora do vencido... Nem mesmo todo o oceano poderia Lavar este padrão de covardia... Tu não és tão culpada!... Aonde estava A França tão potente e tão temida?... Oh! por que o não salvou?... se o contemplava Lá dos gelos dos Alpes — soerguida!?... E ele que a fez tão grande?... Ela folgava!... Enquanto ao longe do colosso a vida, Como um vulcão antigo e moribundo Lento expirava nesse mar profundo.