O tempo nos parques

Vinicius de Moraes

O tempo nos parques é íntimo, inadiável, imparticipante, imarcescível.  Medita nas altas frondes, na última palma da palmeira Na grande pedra intacta, o tempo nos parques. O tempo nos parques cisma no olhar cego dos lagos Dorme nas furnas, isola-se nos quiosques Oculta-se no torso muscular dos fícus, o tempo nos parques. O tempo nos parques gera o silêncio do piar dos pássaros Do passar dos passos, da cor que se move ao longe. É alto, antigo, presciente o tempo nos parques É incorruptível; o prenúncio de uma aragem A agonia de uma folha, o abrir-se de uma flor Deixam um frêmito no espaço do tempo nos parques. O tempo nos parques envolve de redomas invisíveis Os que se amam; eterniza os anseios, petrifica Os gestos, anestesia os sonhos, o tempo nos parques. Nos homens dormentes, nas pontes que fogem, na franja Dos chorões, na cúpula azul o tempo perdura Nos parques; e a pequenina cutia surpreende A imobilidade anterior desse tempo no mundo Porque imóvel, elementar, autêntico, profundo É o tempo nos parques.