Soneto do amor demais

Vinicius de Moraes

Não, já não amo mais os passarinhos  A quem, triste, contei tanto segredo  Nem amo as flores despertadas cedo  Pelo vento orvalhado dos caminhos.  Não amo mais as sombras do arvoredo  Em seu suave entardecer de ninhos  Nem amo receber outros carinhos  E até de amar a vida tenho medo.  Tenho medo de amar o que de cada  Coisa que der resulte empobrecida  A paixão do que se der à coisa amada  E que não sofra por desmerecida  Aquela que me deu tudo na vida  E que de mim só quer amor - mais nada.