Cantem outros a clara cor virente

Alphonsus de Guimaraens

Cantem outros a clara cor virente Do bosque em flor e a luz do dia eterno... Envoltos nos clarões fulvos do oriente, Cantem a primavera: eu canto o inverno. Para muitos o imoto céu clemente É um manto de carinho suave e terno: Cantam a vida, e nenhum deles sente Que decantando vai o próprio inferno. Cantem esta mansão, onde entre prantos Cada um espera o sepulcral punhado De úmido pó que há de abafar-lhe os cantos... Cada um de nós é a bússola sem norte. Sempre o presente pior do que o passado. Cantem outros a vida: eu canto a morte...