Noiva... minha talvez... pode bem ser que o sejas. Não me disseste ao certo o dia em que voltavas. O céu é claro como o teto das igrejas: Vens de lá com certeza. Humildes como escravas, Curvadas ainda estão as estrelas morosas; E bem se vê que algum excelso vulto branco Passou por elas, entre arcarias de rosas, Revolto o manto de ouro, afagando-lhe o flanco. Há tanto tempo que te espero, e espero embalde... Não sabia que assim tão diferente vinhas. Tinhas negro o cabelo: entanto a nuvem jalde, Que o doura todo, o faz tão outro do que tinhas! Quando morreste, o sol era morto, e ainda agora Para mim se prolonga essa noite de guerra... Acaso vens com o teu olhar de eterna aurora Aclará-la outra vez, vindo de novo à terra? Vejo-te a imagem tão destacada no fundo Deste meu sonho, que é como se eu não sonhasse... Cheio da nostalgia estelar de outro mundo, Tem as mágoas de um astro o palor da tua face. Caminhas, e os teus pés sublimes nem de leve Tocam a flor do solo: o ar impalpável pisas. Ora se abaixa, ou se ergue o teu corpo de neve... Parece que te vão berçando auras e brisas. O peristilo arcual da tua boa se move: Soabre-se: a fulva luz que a ilumina contemplo... Falas: como me pasma e inebria e comove Toda a púrpura real do interior desse templo! Parece que um hinal de suaves litanias Acompanha a tua voz nas palavras que soltas. Não sabia que assim tão outra voltarias: Eras de negro olhar, de olhar azul tu voltas. Que me admira se vens de olhar azul e louro Cabelo? Não é a mesma a tua formosura? Voltas do céu, e a cor celestial é azul e é ouro, E é todo este clarão que a imagem te moldura. Noiva... minha talvez... e por que não? Setembro Volta. Setembro é o mês das laranjeiras castas. Vens de grinalda branca, a voar... Ah! bem me lembro. A veste com que foste é a mesma que hoje arrastas. Foste de branco e vens de branco ainda trajada. A túnica nupcial que em níveas dobras desce Pelo teu corpo, tem a brancura sagrada Dos alvos corporais do altar exposto à prece. O parélio do gênio imortal que te anima Surge no resplandor que te aureola a cabeça. Atenta escutas os meus versos rima a rima, E mandas que em cada um a tua Alma apareça. Quero abraçar-te e nada abraço... O que me assombra É que te vejo e não te encontro com os meus braços. Morta, beijei-te um dia: hoje tu és uma sombra Exilada do céu para seguir-me os passos.