OH! NÃO MALDIGAM!

Álvares de Azevedo

Lira dos Vinte Anos Segunda Parte Oh! não maldigam o mancebo exausto Que nas orgias gastou o peito insano... Que foi ao lupanar pedir um leito, Onde a sede febril lhe adormecesse! Não podia dormir! nas longas noites Pediu ao vício os beijos de veneno... E amou a saturnal, o vinho, o jogo E a convulsão nos seios da perdida! Misérrimo! não creu... Não o maldigam, Se uma sina fatal o arrebatava... Se na torrente das paixões dormindo Foi naufragar nas solidões do crime. Oh! não maldigam o mancebo exausto Que no vício embalou, a rir, os sonhos, Que lhes manchou as perfumadas tranças Nos travesseiros da mulher sem brio! Se ele poeta nodoou seus lábios... É que fervia um coração de fogo E da matéria a convulsão impura A voz do coração emudecia! E quando p'la manhã da longa insônia Do leito profanado ele se erguia, Sentindo a brisa lhe beijar no rosto E a febre arrefecer nos roxos lábios... E o corpo adormecia e repousava Na serenada relva da campina... E as aves da manhã em torno dele Os sonhos do poeta acalentavam... Vinha um anjo de amor uni-lo ao peito, Vinha uma nuvem derramar-lhe a sombra... E a alma que chorava a infâmia dele Secava o pranto e suspirava ainda!