Moreninha

Casimiro de Abreu

Moreninha, Moreninha, Tu és do campo a rainha, Tu és senhora de mim; Tu matas todos d'amores, Faceira, vendendo as flores Que colhes no teu jardim. Morena, minha Morena, És bela, mas não tens pena De quem morre de paixão! — Tu vendes flores singelas E guardas as flores belas, As rosas do coração?!.. Moreninha, Moreninha, Tu és das belas rainha, Mas nos amores és má; — Como tu ficas bonita Co'as tranças presas na fita, Co'as flores no samburá! Eu disse então: — "Meus amores, "Deixa mirar tuas flores, "Deixa perfumes sentir" Mas naquele doce enleio, Em vez das flores, no seio, No seio te fui bulir! Como nuvem desmaiada Se tinge de madrugada Ao doce albor da manhã; Assim ficaste, querida, A face em pejo acendida, Vermelha como a romã! Tu fugiste, feiticeira, E de certo mais ligeira Qualquer gazela não é; Tu ias de saia curta.... Saltando a moita de murta Mostraste, mostraste o pé! Ai! Morena, ai! meus amores, Eu quero comprar-te as flores, Mas dá-me um beijo também; Que importam rosas do prado Sem o sorriso engraçado Que a tua boquinha tem?... Apenas vi-te, sereia, Chamei-te — rosa da aldeia — Como mais linda não há. — Jesus! Como eras bonita Co'as tranças presas na fita, Co'as flores no samburá!