A Canoa Fantástica

Castro Alves

PELAS SOMBRAS temerosas Onde vai esta canoa? Vai tripulada ou perdida? Vai ao certo ou vai à toa? Semelha um tronco gigante De palmeira, que sescoa... No dorso da correnteza, Como bóia esta canoa! ... Mas não branqueja-lhe a velar Nágua o remo não ressoa! Serão fantasmas que descem Na solitária canoa? Que vulto é este sombrio Gelado, imóvel, na proa? Dir-se-ia o gênio das sombras Do inferno sobre a canoa! ... Foi visão? Pobre criança! À luz, que dos astros coa, É teu, Maria, o cadáver, Que desce nesta canoa? Caída, pálida, branca!... Não há quem dela se doa?!... Vão-lhe os cabelos a rastos Pela esteira da canoa!... E as flores róseas dos golfos, — Pobres flores da lagoa, Enrolam-se em seus cabelos E vão seguindo a canoa! ...