Exortação

Castro Alves

DONZELA BELA, que me inspira à lira. Um canto santo de fervente amor, Ao bardo o cardo da tremenda senda Estanca, arranca-lhe a terrível dor. O triste existe qual a pedra medra, Rosa saudosa do gentil jardim, Qual monge ao longe já no claustro exausto Qual ampla campa a proteger-lhe o fim. O triste existe em sofrimento lento, Vive, revive pra morrer depois... Morre — assim corre a atribulada estrada Da vida qurida, soluçando a sós. Fada encantada, em teu regaço lasso, Viajante errante, deixa-me pousar; Lírio ou martírio, abre teu seio a meio, Estrela bela, vem-me enfim guiar. Ao mundo imundo, não entrega, nega Tantos encantos dos amores teus, Compreende, entende-te a vertigem, virgem, Somente a mente do poeta e Deus. Desta alma a palma de risonhos sonhos, Da mente ardente a inspiração do céu O vate abate às tuas plantas santas, Altivo e vivo, sendo escravo teu.