Jesuítas e Frades

Castro Alves

Que o mundo antigo serga e lance a maldição Sobre vós... remembrando a negra lnquisição, A hidra escura e vil da vil Teocracia, O Santo Ofício, as provas, o azeite, a gemonia ... Lisboa, Tours, Sevilha e Nantes na tortura, Na fogueira Grandier, João Huss na sepultura, Colombo a soluçar, a gemer Galileu... De mil autos-da-fé o fumo enchendo o céu... Que a maldição vos lance a pena do Gaulês Tendo por tinta a borra das caldeiras de pez... Que o Germano a sangrar maldiz em férreos hinos. É justo! . . . A História cega, aquentando o estilete Nas brasas que apagar não pôde o Guadalete, Tem jus de vos marcar com o ferro do labéu, Como queima o carrasco o ombro nu do réu ... Mas enquanto existir o grande, o novo mundo, Ó Filhos de Jesus!... um cântico profundo Irá vos embalar do sepulcro no solo... A América por vós reza de pólo a pólo! Dizei-o, vós, dizei, Tamoios, Guaranis, Iroqueses, Tapuias, Incas, e Tupis... A santa abnegação, o heroísmo, a doçura, O amor paternal, a castidade pura Destes homens que vinham, envoltos no burel, A derramar dos lábios o amor — divino mel, O perdão — óleo santo, a fé — mística luz, E o Deus da caridade - o pródigo Jesus! ... Oh! não! Mil vezes não! O poeta Americano Vos deve sepultar no verso soberano — Pano negro que tem por lágrimas de prata As lágrimas que a Musa inspirada desata!!! Se aqui houve cativos — eles os libertaram. Se aqui houve selvagens — eles os educaram. Se aqui houve fogueiras — eles nelas sofreram. Se lá carrascos foram — cá mártires morreram. Em vez do Inquisidor — tivemos a vedeta. Loiola — aqui foi Nóbrega, Arbues — foi Anchieta! Oh! Não! Mil vezes nãol O poeta Americano Vos deve amortalhar no verso soberano — Pano negro que tem por lágrimas de prata As lágrimas que a musa inspirada desata!...